Inovação em cadeia - Movimento Bean to Bar
Levei um tempo para entender que um chocolate com alto teor de cacau e feito através do que se chama bean-to-bar é uma inovação. O chocolate da maneira como consumimos hoje é centenário, muitos lançamentos vieram com designs diferentes e infinitas combinações, mas o chocolate, aparentemente é o mesmo, ao menos desde que nasci.
Mas embora o resultado aparente não seja diferente, quando olhamos o processo produtivo e a maneira como aquele chocolate chegou até mim, é totalmente inovador.
A cadeia do cacau e chocolate tem algumas questões socioambientais muito importantes que por muito tempo não se ouviu falar. O cacau cresce em países de clima quente com alta incidência de chuva. No mundo, esses países estão localizados próximos à linha do equador. E a produção e o alto consumo de chocolates são pelos moradores de países frios como Suíça e Alemanha. E não é uma coincidência que a produção de cacau está em países pobres, enquanto a produção de chocolates se localiza nas áreas mais ricas no globo.
Ocorre que embora o chocolate seja consumido no mundo todo, o cultivo de cacau é feito em condições muito precárias. Condições de miséria, trabalho escravo ou análogo à escravidão e mão de obra infantil são realidades comuns aos países produtores de cacau. A indústria de chocolates é capaz de rentabilizar e pode se dizer que o céu é o limite. No entanto, sua matéria-prima mais valiosa, o cacau, é negociada via bolsa de valores, que historicamente não leva em consideração os interesses de todos os lados da cadeia. Nesse cenário o produtor é refém dos valores de mercado.
Não preciso trazer muitos exemplos para falar dessa situação, basta fechar os olhos e pensar na situação econômica da Costa do Marfim, na África (maior produtor de cacau), versos a economia da Suíça, na Europa (maior produtor de chocolates).
No Brasil, produzimos cacau e chocolate, mas a situação não é muito diferente, quando falamos da difícil realidade do produtor versos a riqueza gerada pela indústria processadora.
Para mudar essa realidade econômica, o produtor de cacau precisar receber de maneira justa o pagamento pelo seu produto. No mercado tradicional, quase não existe diferenciação para o cacau. Cuidados no campo e na pós-colheita fazem toda diferença para ter um chocolate de qualidade, mas isso gera investimentos e tempo e são pouco valorizados.
Uma maneira de agregar valor no produto é elevar a qualidade com a produção do cacau fino. E aí começa o diferencial do movimento bean-to-bar, os produtores de chocolate têm contato direto com os produtores de cacau, para uma negociação de preço e qualidade.
Mais que um chocolate, esse movimento é um negócio de impacto social.
Sou orgulhosa em dizer que no Brasil o bean-to-bar vem ganhando forças. O valor agregado do cacau fino vem motivando os produtores, e impulsionando uma nova economia.
Autoestima que gera cuidados: hoje as lamentações pela falta de produtividade foram substituídas pela busca por conhecimento em fermentação, secagem. Produtores orgulhosos pelo produto gerado com seu trabalho conseguem receber mais pelo seu cacau. E com isso, vamos mudando esse jogo.
E voltando ao começo, só consegui entender a sua inovação, quando primeiro compreendi a cadeia como um todo. E por isso digo que o movimento bean-to-bar é muito mais que um chocolate, é uma inovação disruptiva nesse mercado.
Faça o download!